THOUSANDS OF FREE BLOGGER TEMPLATES ?

domingo, 28 de dezembro de 2008

sem título (6)

...Não Sr. Director, não...
sou interrompida pelo Director.
- Cláudia, deixe-se de formalismos, estamos sentados a tomar um café. Trate-me por Francisco.
Escondi as mãos, suadas, trémulas, debaixo da mesa e em cima das minhas pernas.
- Bom...não Francisco, não sou casada.
- Não me diga que também é divorciada?
- Também não Sr. Dir...melhor, Francisco.
Por favor, falando comigo própria, digam-me quando é que isto acaba. Acho que não vou aguentar com tanta pergunta. Que é que eu faço?
- Bom
Outra vez o Director.
- Vou deixá-los a sós e... Cláudia, trate bem do Thomáz. Olhe que eu quero-o bem preparado para ver se damos uma volta naquele departamento.
- Sim Sr... desculpe, Francisco.
Caíu-me o coração ao pés. Eu não aguentava nem mais um minuto.
- Cláudia, sente-se bem?
pergunta-me o Thomáz.
- Sim Thomáz, estou bem. Acho que o café não me caíu bem, mas passa.
Levanto-me, pego na minha chávena e na do Thomáz mas...imediatamente o Thomáz me pergunta.
- Que está a fazer Cláudia?
- Vou pôr as chávenas no tabuleiro de sujos.
- Que é isso?
Pergunta-me o Thomáz?
- Não é minha criada. Eu levo a minha, não...dê-me também a sua, por favor e diga-me onde devo pôr.
Posto isto e passada esta, dolorosa fase, seguimos então a nossa caminhada pelos departamentos. Esta apresentação tem de acabar, ainda, da parte da manhã. É suposto, depois do almoço, começar a parte prática, mexer nos papéis e a nossa função na empresa, no departamento.
Percorrendo, então, os corredores, eis que à saída do departamento de pessoal, damos de caras, novamente, com o director e, logo de imediato me diz.
- Cláudia, calha bem pois esqueci de lhe dizer. Aí por volta das 18 horas vá ao meu gabinete. Quero falar um pouco consigo. Deixe o Thomáz a tomar conhecimento de alguma papelada e vá ter comigo.
Estou encostada à parede, quase sem respirar. Não há motivo, ele é meu patrão e quer falar de trabalho. Estou a tentar convencer-me disso mas...não consigo. É mais forte, a cabeça não consegue parar de imaginar o que ainda não aconteceu. Porquê, porquê este meu estado, porque reajo assim, viver imaginando?
De repente, penso que tenho junto a mim o Thomáz e não posso demonstrar esta minha aflição, esta minha insegurança. Tenho de esconder esta cara, concerteza bem vermelha, porque quente...está, mostrando a Cláudia segura e zelosa do seu trabalho.
- O director não esconde o quanto precisa e confia na Cláudia.
Palavras do Thomáz.
.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

sem título (5)

... Que me lembre, é a primeira vez que estou à mesa na companhia do meu director.
A conversa está a ser muito profissional, digamos que o Director está, também, a dar algumas informações ao Thomáz.
Escuto, quero sentir o que me possa estar a escapar ou o que posso aprender. Bom... mas no meio disto, sinto-me como alguém que está a mais nesta mesa. A conversa está entre os dois e eu com a sensação de não existir, nem sequer me olham. Que bom, por um lado, mas esquisito sentir assim, por outro.
Estou cada vez mais nervosa, incomodada. A chávena do meu café está a meio e eu, já não tenho vontade. Estou com o desejo enorme de ficar sózinha, de ir para a minha secretária. Preciso respirar, acalmar e estar no meu cantinho.
- Thomáz, que diz da nossa Cláudia?
Valha-me Deus. Uma pergunta sobre mim, do meu Director.
- Muito eficiente, sabedora e está a ser uma óptima professora.
Resposta do Thomáz.
Sorrio, embora não seja verdadeiro. De vontade. Nervos.
- Cláudia sabe que o Thomáz e licenciado em Gestão?
Pergunta do Director.
- Não Sr. Director. Ainda não sabia.
- E também deve ser um bom rapaz. É solteiro.
Diz o Director, sorrindo e eu cada vez mais nervosa e sem saber para onde olhar.
- Digamos antes, divorciado.
Rectificou o Thomáz.
- E... já que estamos com esta conversa, foi coisa que nunca soube, não que seja obrigatório ou da minha conta, mas... Cláudia, é casada?
Outra pergunta do Director. Para mim e sobre mim.


.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

sem título (4)

De boa apresentação, figura bem cuidada, cabelo grisalho, fato cinzento escuro, camisa azul clara e gravata azul escura. Este é o Sr. Thomáz que me foi "entregue" pelo meu director para o pôr ao corrente das suas funções.
A primeira palavra que trocámos foi a nossa apresentação, agora que estamos os dois sózinhos, num tom mais informal. À primeira vista, deu para notar a sua voz bem suave, palavras pausadas e apresentando uma imagem de alguém muito calmo e social.
Percorri os vários departamentos da empresa e fui apresentando-o aos colegas. Enquanto isso e nos intervalos destas apresentações, sempre havia tempo para uma conversa extra, um pouco mais relacionada connosco. Não me parece que seja uma pessoa com dificuldades em estabelecer o diálogo.
Era já percorrida meia manhã e as apresentações continuavam mas, recebo a pergunta do Thomáz:
-Habitualmente não há um tempinho para tomar um cafézinho? Respondi:
- Claro que existe esse tempo.
Ele:
- Então podemos? Deixe-me convidá-la.
respondo:
- Aceito. Temos o nosso refeitório onde nos podemos sentar um pouco.
- Óptimo, já me vazia falta.
Respondeu ele.
Assim foi, sentámo-nos no refeitório e bebemos o café sendo que, pelo meio, como que adolescentes, tentámos ambos estabelecer um diálogo mas...a confiança ainda é curta e uma certa timidez, impedia-nos de olhar um para o outro a modos de se estabelecer conversa, que mais não podia ser, senão e apenas, sobre trabalho. Afinal, foi para isso que o nosso director nos convocou e...olha, por falar em director, eis que o mesmo acaba de entrar no refeitório, o que me causa, sem explicação, uma sensação de calor na minha cara e um certo nervosismo. Pediu uma água com gáz, chega-se à nossa mesa e pergunta:
- Posso fazer companhia?


.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

sem título (3)

Embora não se possa dizer que os dias sejam iguais, não deixei de sair de casa para me dedicar a mais um dia rotineiro. Bem agasalhada porque o tempo não está de grandes calores, entrei numa pastelaria, a do costume e onde o Sr. João me disse:
- Então menina, Bom Dia, vamos querer o habitual?
- Sim, para não variar. Obrigado.
Trata-se de um copo de leite bem quente e um pãozinho de Deus com um pouco de manteiga. Sentei-me, até porque ainda faltava uma meia hora para entrar no escritório e comecei a saborear o meu pequeno almoço e a observar o entra e sai de um mundo de gente. Uns mais apressados que outros, por sua vez, outros conversando num timbre de voz que quase causa arrepios, conversas de futebol, de mulheres e homens, do dizer mal deste e daquela, enfim, um mar de vida.
Dou de caras com um colega e levantando a minha mão, faço-lhe sinal para que se venha sentar e assim foi. Acompanhado da sua bica, demos dois dedos de conversa, o suficiente para o tempo passar a correr. Saímos e dirigimo-nos ao escritório para começar mais um dia de trabalho.
Uma surpresa logo de manhã e para mim.
Quase mal me tinha sentado na cadeira e sou abordada pelo meu Director, na companhia de um outro senhor.
Diz-me o Director:
- Bom Dia Cláudia, este é o Sr. Thomáz que entra hoje para a empresa e vem ocupar o lugar vago junto de ti.
Delicadamente levanto-me e cumprimento o Sr. e depois o meu Director.
Avançando com a situação, o meu Director diz-me:
- Cláudia, quero pedir-te que ajudes este nosso novo colaborador, o identifiques do que se pretende e lhe dês uma apresentação, o mais apurada possível, sobre a empresa. Gasta o tempo que achares para que nada possa escapar. Quero o Thomáz bem conhecedor de quem somos.
Assumi a função mas... não sem antes reparar o quanto o meu Director me observava. O seu olhar fora do habitual, os seus olhos, a fixação em mim, por vezes o parecer-me interromper a sua conversa e naquele vazio o seu olhar, como se fosse a primeira vez que me via.
Não posso dizer que tenha ficado incomodada, mas... algo de diferente notei e em mim penetrou... e ficou.
.

domingo, 16 de novembro de 2008

sem título (2)

Não obstante o prazer de caminhar naquela praia, surge como que uma obrigação, voltar para trás e começar a fazer o caminho de regresso.
Mas... para sua satisfação, outras belezas se lhe proporcionam. O dia já vai longo e o Sol se vai escondendo. O mar, esse, não se esconde mas, se apresenta leve, calmo, sereno e mantém o perfume a maresía. Esta calma deixa transparecer um agradável reflexo que, quase lhe toca e a envolve com sua côr abrilhantada. É o Sol, aquele que se esconde mas que ainda lhe oferece luz e desenha seu corpo na areia.
Os pensamentos, mais ricos, fazem com que as suas passadas se tornem mais apressadas. Afinal, ela volta para sua casa com justificada razão para tanta alegria. Tudo o que de bom seu corpo absorveu e a pedra, agora bem quente, no calor da sua mão e pronta a ser colocada debaixo da almofada da sua cama, dão-lhe o ânimo de enfrentar o peso de mais uma meia dúzia de dias que tem pela frente. Como serão? Ela não pode saber. Ela não quer saber. Ela apenas sabe o quanto ganhou com o dia de hoje.

.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

sem título (I)











Descalça, calças arregaçadas, enxarpe tapando sua camisa branca mas protegendo seu corpo de uma aragem pura e fria, ela caminha pela areia da praia vazia, onde se pode sentir um maravilhoso salpicar tocando em sua cara e dando o sabor de um mar bravio e salgado. Um cheiro de encanto perfume maresía e ondas de uma espuma que mais parece neve em derrocada, contrastando com o som de uma melodia conjunta de água e gaivota de asas bem abertas, voando, planando, contra o soprar de um vento forte que não impede sua mestria e atenção na procura do alimento que o mar azul e quase transparente lhe ofereçe.
É um caminhar de pensamentos onde a beleza infinita lhe dá a tranquilidade de, por cada passada, desenhar na areia seus delicados pés que resumem um presente e um passado que depressa se vai apagando engolidos pelo mar, resultado de ondas também elas desfeitas.
Abraçada ao seu próprio corpo, apertando e aliviando a força, consoante sua vontade, deixando seus cabelos esvoaçarem e seus olhos lacrimejarem, nada consegue sobrepor-se a este paraíso vazio mas tão cheio, onde apenas uma pedra, branca, lisa, quase aveludada, a faz movimentar o braço direito e, baixando-se, apanha-a, sente o seu aroma, sua frescura e o seu silencio. Olha-a fixamente, fecha-a na sua mão e, respirando bem fundo, aconchega-a ao seu peito.
.
(fotos gentilmente cedidas por uma amiga)


domingo, 26 de outubro de 2008

até...

hoje, posso ser lamechas com o que estou a escrever
mas, de uma coisa tenho a certeza...
a minha consciência assim o obriga
e todos vós o merecem.

a minha ausência, na visita aos vossos blogs,
não deixa dúvidas.
ela já é enorme no tempo e eu confesso
a falta de ânimo em voltar ao que vos habituei...
apreciar a vossa escrita e deixar o meu comentário.
não que vos possa parecer mas, não há um de vós
que eu não lembre e, em determinadas alturas,
vos visito mas... não comento.
a minha maneira de ser diz: todos são iguais,
porque escrevem e partilham os seus sentimentos
logo, todos merecem o meu comentário. agora,
não posso ficar bem, comigo mesmo, comentar
um amigo e deixar os outros. não o faço.

sou portador da doença Bipolar,
como sempre assumi e dou título ao blog,
bem como afirmo que este blog nasceu
para partilhar as minhas experiências vividas
com a doença e aceitar os comentários de alguém,
também portador, ou não.
isso não tem acontecido e eu respeito as pessoas
mas, o blog nasceu e eu não podia parar, daí,
tenho divagado na escrita e mantenho o,
"Bipolar...ou mentepoderosa".

todos nós temos períodos na nossa vida
em que podemos sorrir, ou não.
não posso dizer que esteja num período
totalmente mau mas, confesso,
existe em mim uma certa desmotivação
e sei perfeitamente, pelo muito que me tenho
dedicado a aprender sobre a doença,
estar numa fase menos boa.
lógico que há motivos para despoletar as fraquezas e,
por muito que se tente e saiba, elas tornam-se "chatas"
e demotivam a força das nossas capacidades.

fico bem, comigo, ao confessar
a minha ausência a todos vocês.
não quero que pensem na palavra...
"esquecimento".
aos poucos, para além de vos visitar,
voltarei a deixar o meu, modesto, comentário.


finalmente um recordar:
Bipolares e seus companheiros de vida...
convençam-se que não é vergonha
partilhar o mal de que se padece.
não é aí, ou por isso, que somos diferentes
e esta doença só nos trai,se nós formos mesmo fracos
e não valorizarmos a nossa força.
ela é "madrasta" mas nós, temos capacidade
para a aceitar e...
mesmo debilitados, só existe uma razão...
a força de não desistir.


até...

.